Sassicaia, o primeiro Super Toscano




Cada país da Europa tem uma forma para regulamentar a nomenclatura de seus vinhos, geralmente baseada na região produtora. A Itália oficializou esse controle em 1963, num sistema de lei chamado Denominação de Origem Controlada – mais conhecido por sua abreviatura, DOC.

Dessas regulamentações constam, entre outras coisas, a delimitação geográfica; a quantidade máxima de produção por hectares e a porcentagem de cada tipo de uva utilizada. Na época em que foram criadas, os vinhos italianos da região da Toscana estavam com a imagem deteriorada, principalmente fora da Itália.

Esse problema surgiu da junção de fatores como a queda do preço dos vinhos no mercado e a própria introdução dessas regulamentações, que ao invés de ajudar, acabaram atrapalhando, pois usavam regras defasadas; limitavam os tipos de uvas utilizadas e estabeleciam rendimentos por hectares mais voltados à garantia da quantidade do que da qualidade. Outro problema importante era a falta de pesquisas consistentes para determinar os clones de uvas adequados para cada região.

Tudo isso fez com que os vinhos toscanos entrassem em profunda crise, mas esse cenário acabou mudando graças ao trabalho de algumas pessoas que muito antes do surgimento desses problemas já trabalhavam na direção oposta. Entre eles, podemos citar um apaixonado por vinhos franceses, o italiano Mario Incisa della Rochetta.

Mario não percorreu uma estrada fácil até conseguir êxito com seus vinhos. Seu trabalho teve início quando era estudante de agronomia e resolveu implantar, na propriedade de sua família, na região de Bolgheri, na Toscana, uvas para a produção de vinhos estilo bordolês, isto é, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc.

Na época pareceu muito estranha essa decisão, pois a região era muito próxima do mar. Os vinhos produzidos por ele entre 1948 e 1960 ficaram restritos ao consumo local e foram duramente criticados por serem extremamente austeros.

Sem se deixar abater pelas opiniões contrárias, Mario continuou pesquisando e aprimorando seus vinhos. A cada safra, guardava algumas garrafas em sua cantina e percebeu que os vinhos melhoravam depois de um período de envelhecimento.

Em 1965, plantou novos vinhedos em uma área da propriedade com solo e microclima muito parecidos com os da região francesa de Graves, em Bordeaux. O nome escolhido para o vinho produzido a partir desses vinhedos foi Sassicaia.

A partir da primeira safra do Sassicaia, em 1968, Mario decidiu reformular a cantina e introduziu o uso de barris de carvalho franceses para o envelhecimento do vinho. Todo este esforço foi recompensado e o Sassicaia teve reconhecimento mundial.

O primeiro a compreender sua importância foi o crítico de vinhos Luigi Veronelli, em 1974. Em 1978, a revista inglesa Decanter classificou o Sassicaia da safra de 1972 como o melhor de uma elite de grandes vinhos produzidos com uva Cabernet Sauvignon. Em 1982, o Pocket Wine Book definiu o Sassicaia como o melhor vinho italiano e a Associação Vinarius o elegeu como o melhor vinho do ano.

O Sassicaia só ganhou uma regulamentação DOC do governo italiano em meados dos anos 1990. Antes disso, não tinha uma classificação específica, pois fugia dos padrões dos vinhos produzidos na região da Toscana, e foi vendido por muito tempo como “Vino da Tavola”.

Para não chamá-lo dessa forma, o mercado internacional criou um apelido para esse tipo de vinho. Nascia assim o título de Super Toscano. O Sassicaia pode ser considerado o primeiro vinho Super Toscano.

A sua coroação veio ao receber status de primeiro cru italiano e ganhar uma Denominação de Origem Controlada só para ele. É o único caso em que o governo italiano regulamentou um vinho produzido por vinhedo pertencente a um produtor, que, no caso, é o Sassicaia, da Tenuta San Guido.

Apesar da sua fama internacional, o Sassicaia não pode ser considerado um vinho típico italiano, pois na sua produção não são utilizadas uvas nativas da Itália. As suas características são muito similares aos vinhos franceses da região de Bordeaux, com 85% de Uva Cabernet Sauvignon e 15% de Uva Cabernet Franc, mas ele é apontado, por muitos críticos, como um dos melhores vinhos Italianos.

Saiba Mais

As melhores safras dos últimos anos: 1978, 1985, 1988, 1990, 1995, 1997 e 2004.

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Vinhos Italianos por Adriana Grasso